Como a guerra da Rússia na Ucrânia remodelou os mercados globais
Conflito iniciado em 2022 alterou preços de energia e alimentos, redesenhou cadeias industriais e impulsionou corrida por defesa, com impactos diretos sobre moedas, inflação e acordos comerciais internacionais.

Os mercados globais acompanham de perto a reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin, no Alasca, nesta sexta-feira, que pode selar um cessar-fogo na Ucrânia. Desde 2022, a guerra provocou um choque energético, elevou o custo dos alimentos, pressionou ativos europeus e isolou a economia russa de grande parte do Ocidente.
A Europa, dependente do gás russo barato, foi a região mais afetada. A escalada dos preços de energia paralisou a economia alemã e castigou setores industriais e químicos. Ao mesmo tempo, ações aeroespaciais e de defesa dispararam, com ganhos acima de 1.500% para empresas como a Rheinmetall. Mesmo com um possível cessar-fogo, analistas projetam que a demanda europeia por defesa permanecerá elevada.
O Brent chegou a subir 30%, para US$ 139 o barril, enquanto o gás natural europeu saltou quase 300% no auge da crise. A busca por alternativas levou a União Europeia a ampliar as compras de gás natural liquefeito dos EUA, com meta de elevar importações anuais de combustíveis fósseis de US$ 75 bilhões em 2024 para US$ 250 bilhões até 2027, número que especialistas consideram otimista demais. Hoje, petróleo e gás seguem até 50% e 300% mais caros, respectivamente, que há cinco anos.
A combinação de pandemia e guerra liberou pressões inflacionárias globais, impulsionando altas históricas nas taxas de juros. Embora a inflação tenha recuado desde 2022, os preços dos alimentos continuam em patamar crítico, especialmente para economias emergentes. Segundo a FAO, o índice global de commodities alimentares atingiu em julho o maior nível em mais de dois anos.
A Ucrânia, em guerra, reestruturou US$ 20 bilhões em dívida pública e viu seus títulos oscilarem ao sabor da diplomacia. A Rússia, sob sanções severas, sofreu retração, mas recuperou parte da atividade com gastos militares, registrando alta de quase 40% no rublo frente ao dólar neste ano. Moscou também intensificou o uso do yuan, que já supera o dólar no comércio bilateral com a China.
No câmbio, o euro perdeu 6% contra o dólar em 2022. Um cessar-fogo poderia aliviar a pressão, mas analistas lembram que política monetária e cenário global seguirão decisivos. As sanções e o congelamento de US$ 300 bilhões em ativos russos aceleraram um movimento maior: a desdolarização, com países buscando reduzir sua exposição à moeda americana.